Como nariz gelado 'denuncia' estresse em imagens com câmeras especiais

PodCast Escrito em 14/10/2025


A queda de temperatura no nariz, visível na imagem térmica à direita, ocorre porque o estresse altera o fluxo sanguíneo Kevin Church/BBC Quando fui convidada a fazer, de improviso, um discurso de cinco minutos e, em seguida, contar de trás para frente em intervalos de 17, tudo diante de um painel com três pessoas desconhecidas, o estresse agudo estava estampado no meu rosto. Isso porque psicólogos da Universidade de Sussex (Reino Unido) filmavam essa experiência um tanto assustadora para um projeto que estuda o estresse com câmeras térmicas. O estresse altera o fluxo sanguíneo no rosto, e os cientistas descobriram que a queda de temperatura no nariz pode ser usada como medida dos níveis de estresse, e também para monitorar a recuperação do corpo. Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo, a tecnologia de imagem térmica pode representar um grande avanço na pesquisa sobre estresse. O teste experimental ao qual me submeti é cuidadosamente controlado e deliberadamente projetado para ser uma surpresa desagradável. Cheguei à universidade sem ideia do que me aguardava. Primeiro, pediram que eu me sentasse, relaxasse e ouvisse ruído branco em um fone de ouvido. Até aí, tudo tranquilo. Em seguida, a pesquisadora responsável pelo experimento convidou três desconhecidos a entrar na sala. Eles se sentaram à minha frente, em silêncio, enquanto ela informava que eu teria três minutos para preparar um discurso de cinco minutos sobre meu "emprego dos sonhos". Senti o calor subir pelo pescoço enquanto os cientistas registravam, com uma câmera térmica, as mudanças de cor no meu rosto. Meu nariz logo esfriou — ficou azul na imagem térmica — enquanto eu tentava pensar em como improvisar aquela apresentação inesperada. (Decidi aproveitar a ocasião para fazer meu discurso de candidatura ao programa de treinamento de astronautas!). Os pesquisadores da Universidade de Sussex aplicaram o mesmo teste de estresse em 29 voluntários e observaram, em todos os casos, uma queda de temperatura no nariz entre 3 e 6 graus Celsius. No meu caso, a temperatura caiu 2 graus, quando o sistema nervoso desviou o fluxo de sangue do nariz para os olhos e ouvidos — uma reação física que ajuda o corpo a vigiar e ouvir melhor diante de um possível perigo. A maioria dos participantes, como eu, se recuperou rapidamente: o nariz voltou à temperatura normal em poucos minutos. Segundo a pesquisadora-chefe, professora Gillian Forrester (Universidade de Sussex), o fato de eu ser repórter e apresentadora provavelmente me deixou "bastante habituada a situações estressantes". "Você está acostumada com câmeras e com pessoas desconhecidas, então provavelmente é mais resistente a fatores de estresse social", explicou Forrester. "Mas mesmo alguém como você, treinada para lidar com situações de tensão, mostra uma mudança fisiológica no fluxo sanguíneo — o que sugere que essa 'queda nasal' é um marcador confiável de alteração no estado de estresse." O 'mergulho nasal' — queda de temperatura no nariz — ocorre em poucos minutos quando estamos sob estresse agudo Kevin Church/BBC News O estresse faz parte da vida. Mas essa descoberta, dizem os cientistas, pode ajudar a controlar níveis prejudiciais de estresse. "O tempo que uma pessoa leva para se recuperar dessa queda de temperatura nasal pode ser uma medida objetiva de como ela regula o próprio estresse", afirmou Forrester. "Se essa recuperação for anormalmente lenta, isso pode ser um marcador de risco para ansiedade ou depressão? E será que há algo que possamos fazer a respeito?" Por ser não invasiva e medir uma resposta física, a técnica também poderia ser útil para monitorar o estresse em bebês ou em pessoas incapazes de se comunicar. A segunda etapa da minha avaliação de estresse foi, na minha opinião, ainda pior que a primeira. Pediram que eu contasse de trás para frente a partir de 2023, em intervalos de 17. Um dos três avaliadores impassíveis me interrompia a cada erro e mandava começar de novo. Confesso: sou péssima em cálculo mental. Enquanto me esforçava, constrangida, para fazer subtrações, só conseguia pensar em fugir daquela sala abafada. Durante a pesquisa, apenas 1 dos 29 voluntários do teste pediu para sair. Os demais, como eu, completaram todas as tarefas — presumivelmente em diferentes graus de humilhação — e foram recompensados, ao final, com mais uma sessão relaxante de ruído branco nos fones de ouvido. Primatas ansiosos A professora Gillian Forrester vai demonstrar o novo método de medição térmica do estresse diante de uma plateia no evento New Scientist Live, em Londres, no sábado (18/10). Um dos aspectos mais surpreendentes da abordagem é que, como as câmeras térmicas registram uma resposta física ao estresse inata em muitos primatas, o método também pode ser aplicado a não humanos. Os pesquisadores estão desenvolvendo o uso da técnica em santuários de grandes primatas, como chimpanzés e gorilas, para descobrir maneiras de reduzir o estresse e melhorar o bem-estar de animais resgatados de situações traumáticas. A equipe já constatou que exibir vídeos de filhotes de chimpanzé tem um efeito calmante sobre chimpanzés adultos. Quando os cientistas colocaram uma tela próxima ao recinto dos animais, as temperaturas nasais aumentaram nos indivíduos que assistiram às imagens. Em termos de estresse, portanto, ver filhotes brincando é o oposto de uma entrevista de emprego surpresa ou de um teste de subtração de cabeça. Chimpanzés e gorilas em santuários podem ser resgatados de situações traumáticas Gilly Forrester/University of Sussex O uso de câmeras térmicas em santuários pode ajudar a monitorar o bem-estar e a adaptação dos animais resgatados a novos grupos e ambientes. "Eles não conseguem dizer como se sentem — e muitas vezes são muito bons em disfarçar isso", explicou Marianne Paisley, pesquisadora da Universidade de Sussex que estuda o bem-estar dos grandes primatas. "Estudamos primatas há mais de cem anos para compreender a nós mesmos. Agora que sabemos tanto sobre a saúde mental humana, talvez possamos usar esse conhecimento para retribuir a eles." Talvez, portanto, minha pequena provação científica possa contribuir, de forma modesta, para aliviar o sofrimento de alguns de nossos parentes primatas. Com reportagem de Kate Stephens e fotografias de Kevin Church AB Saúde: Estresse afeta a saúde do corpo e da mente