Série documental revela vida dos botos-cinza em quatro regiões do Brasil

PodCast Escrito em 21/05/2025


Produção inédita mostra diversidade de comportamentos do golfinho ameaçado de extinção e reforça importância de conservar espécie nativa. Espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção Eric Medeiros Como vivem os botos-cinza ao longo da extensa costa brasileira? Que ameaças enfrentam e como se relacionam com as comunidades locais? Essas e outras perguntas norteiam a série documental “Expedição Boto-cinza”, produzida pelo Projeto Boto-cinza, com direção do documentarista Gabriel Marchi e patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental. A série, que estreou em maio no canal do YouTube do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC), é composta por quatro episódios e apresenta registros impressionantes sobre o comportamento do boto-cinza (Sotalia guianensis), um golfinho que habita regiões costeiras e que atualmente consta na lista vermelha de espécies ameaçadas no Brasil. Inédita, a produção pretende mostrar em detalhes como é a estrutura social da dos botos, o cuidado com os filhotes, as estratégias para conseguir alimento e os desafios de habitar ambientes em constantes transformações. Populações de botos-cinza aprensentam diferenças comportamentais em cada região do país Caio Noritake A série também mostra as pesquisas científicas, curiosidades, ameaças e oportunidades econômicas da presença viva e livre desses mamíferos. É a primeira vez no Brasil que uma expedição percorre a costa brasileira para mostrar a vida dos boto-cinza. Os três primeiros episódio da série “Expedição boto-cinza” já estão disponíveis no canal do YouTube do IPeC. Cada capítulo revela um aspecto diferente da vida desses golfinhos fascinantes, conectando ciência, conservação e emoção em alto-mar. Viagem pela diversidade comportamental A expedição percorreu quatro localidades distintas: Cananéia (SP), Rio de Janeiro (Baía de Sepetiba), Florianópolis (SC) e Praia da Pipa (RN). Em cada uma delas, pesquisadores locais contribuíram com informações científicas e relatos sobre as populações de botos-cinza. A escolha dos locais teve como critério a diversidade dos grupos. “Escolhemos populações com características comportamentais, organizacionais e de ambiente mais distintas possíveis para conseguir mostrar essa grande diversidade de comportamentos e de ocorrência da espécie na costa brasileira”, revela Caio Louzada, coordenador do projeto. Equipe flagrou grupos numerosos de botos-cinzas Julia Cavalli Pierry “Pense nos botos como os brasileiros, em cada região do país temos costumes, culturas e tradições diferentes. De uma forma simplificada de explicar, algo similar acontece com os botos, em cada região da costa brasileira eles têm uma ‘vida’ diferente. A série mostra esse aspecto, revelando a inteligência e a complexidade da estrutura social dos botos-cinza. Com isso, ampliamos o conhecimento sobre a espécie”, explica o coordenador. Uma das surpresas mais marcantes aconteceu na Baía de Sepetiba, onde a equipe registrou uma enorme agregação de botos-cinza com centenas de indivíduos. “Foi algo muito marcante, principalmente para nós que estamos acostumados a observar os botos-cinza em pequenos grupos em Cananéia”, relembra. Equipe flagrou grupos numerosos de botos-cinzas Julia Cavalli Pierry Desafios técnicos Realizar uma produção documental em ambientes marinhos é uma tarefa complexa. O maior desafio da equipe foi o tempo restrito em cada local, já que os integrantes tinham poucos dias em campo para localizar os grupos e conseguir boas imagens. “A maior parte das imagens foi obtida através de saídas embarcadas então tínhamos que conciliar as condições meteorológicas para gravação, tempo de navegação até localizar os animais, condições para operar os equipamentos de filmagens (câmeras e drones) e fazer bons registros dos animais que não são a espécie mais fácil para registrar”, conta Gabriel Marchi. Mesmo diante dessas dificuldades, a série conseguiu revelar momentos raros e emocionantes da vida dos botos, sempre priorizando o respeito à fauna e ao ambiente. Série documental foi produzida pelo Projeto Boto-cinza, sob direção do documentarista Gabriel Marchi Letícia Quito Entre ameaças e oportunidades Mias que informar, a série busca também sensibilizar o público. A presença do boto-cinza está fortemente ligada a áreas de grande atividade humana, o que aumenta a vulnerabilidade da espécie. Entre as principais ameaças estão a poluição marinha, o tráfego de embarcações e a degradação dos habitats costeiros. Ao mesmo tempo, a presença dos botos pode representar oportunidades sustentáveis, como o turismo de observação de fauna. A série mostra como a atividade, que em algumas regiões já é uma fonte de renda expressiva, pode ser direcionada a esses animais. Poluição marinha, tráfego de embarcações e degradação dos habitats costeiros ameaçam a vida dos botos Caio Noritake No entanto, também pondera que esse tipo de turismo seja feito com responsabilidade, especialmente das embarcações marítimas. “Por isso, ao abordar esse tema na série, atrelado a outras informações importantes sobre a espécie, é uma forma de sensibilizar os turistas como agentes de conservação”, finaliza o pesquisador. Aprendizados e próximos passos Além de divulgar dados científicos de forma acessível, a produção mostra o esforço de conservação realizado por décadas por pesquisadores em diferentes regiões. “Mostramos a importância das pesquisas científicas para gerar dados que possam contribuir para a mitigação desses impactos e alertar os brasileiros dos riscos que uma espécie tão emblemática corre, é um convite à reflexão de como as pessoas podem somar a esses esforços. ”, reforça Louzada. O próximo passo do Projeto Boto-cinza é o lançamento, em julho, de um curta documental aprofundando os comportamentos da espécie, a fim de expandir ainda mais o conhecimento gerado pela expedição. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente